Dois Livros Fofos

Você já conhece a autora Beth O’Leary? Eu nunca tinha ouvido falar até que vi o livro Teto Para Dois no aeroporto de São Paulo. Resolvi comprar pra ler na viagem de volta, mas o sono me venceu e ele acabou indo parar na minha pilha crescente de livros pra ler. Uns meses atrás resolvi lê-lo e tive uma agradável surpresa.

Tiffy e Leon moram no mesmo apartamento, dormem na mesma cama, mas nunca se viram. Não, não é nada sobrenatural. Tiffy trabalha numa revista sobre trabalhos manuais e precisa desesperadamente de um lugar para morar, depois de ter terminado um relacionamento conturbado. Leon é enfermeiro e precisa de um dinheiro extra para ajudar ao irmão. Sem nunca se verem, eles entram num acordo. Tiffy trabalha de dia e fica com o apartamento (e a única cama) à noite. Leon trabalha à noite e fica com o apartamento durante o dia. Nos fins de semana ele vai para a casa da namorada.

A narrativa do livro é bem interessante. Ela intercala pensamentos e momentos de Tiffy e Leon, cada um narrando um capítulo. O relacionamento dos dois vai sendo construído aos poucos, através de post-its. No início só com recadinhos tipo, “não deixe a tampa do vaso levantada”, “fiz um bolo”, “ligaram pra você”…Com o tempo, os recados vão ficando mais fofos, e Tiffy e Leon se veem cada vez mais atraídos um pelo outro, mesmo sem nunca terem se visto.

Porém, o livro não é apenas fofurice. Ele trata de temas pesados como relacionamento abusivo e como um relacionamento tóxico pode causar danos nas pessoas, como as vítimas se sentem culpadas, mesmo que a culpa NUNCA seja delas. Ele aborda também um caso de injustiça do setor judiciário e a luta para a reversão desse caso. Há também a procura de um amor perdido décadas atrás e o esforço dos personagens para que aconteça um reencontro. Tudo isso tratado de uma forma leve. O final do livro não poderia ser mais fofo.

Passeando um dia na livraria, pensando em gastar dinheiro com livros, me deparei com A Troca, da mesma autora de Teto para Dois. Claro que comprei e, como no livro anterior, me apaixonei pela história.

Leena tem 29 anos, mora em Londres e está atravessando um período muito difícil por causa da morte da irmã. Depois de ter um crise de pânico durante a apresentação de um trabalho, sua chefe lhe dá dois meses de férias remuneradas, apesar dos protestos de Leena. Eileen, avó de Leena, tem 79 anos e mora em Hamleigh-in-Harksdale, cidadezinha do interior da Inglaterra, no condado de Yorkshire. Ela é uma mulher dinâmica e cheia de vida e quer encontrar um novo amor, depois que o marido foge com a professora de dança.

Depois das férias impostas, Leena resolve passar uns dias com sua avó. E lá ela tem a ideia de trocarem de casa. E de vida. Leena ficaria em Hamleigh e Eileen iria morar em Londres na casa de Leena junto com seus dois colegas de apartamento. Eileen propõe que elas também troquem de celular e acaba ficando com IPhone de Leena, enquanto a neta fica com o celular praticamente pré-histórico da avó.

A narrativa do livro é a mesma da anterior e o leitor fica sabendo o que acontece com as duas personagens simultaneamente. Apesar de jovem, Leena faz amizade com os amigos idosos de Eileen, enquanto esta fica amiga dos amigos de Leena e aprende com eles a usar as redes sociais, o Tinder entre elas.

Como no livro anterior, esse também tem temas mais pesados, como luto, perda, raiva e depressão. A autora tem um jeito leve de tratar temas mais sérios de um jeito leve que acaba conquistando você.

O foco do livro é nas mudanças e descobertas de Leena e Eileen, mas há lugar para novas amizades, perdão, um cachorro bagunceiro, velhinhos intrometidos, um ator charmoso e um cara de cabelo bagunçado, incríveis olhos azuis e lindas covinhas quando sorri. Confesso que covinhas me derrubam. 😉

É daqueles livros que deixam o coração quentinho quando você termina de ler. Já quero adquirir Na Estrada com o Ex, novo livro da autora. Todos são distribuídos pela editora Intrínseca.

A Pequena Livraria dos Corações Solitários

Eu sou o tipo de pessoa que compra livros mesmo já tendo uma pilha gigante pra ler. Uma espécie de paqueradora literária. Lendo um e de olho em outro. Ou outros. Há uns três anos eu estava passeando numa livraria (adoro!) quando dei de cara com um livro de capa super fofa: A Pequena Livraria dos Corações Solitários, de Annie Darling. Além da capa e do título, gostei da sinopse, uma comédia romântica levinha, e resolvi comprar. Mas larguei na minha enorme pilha de livros e esqueci. Há poucos meses, numa noite de insônia, fui procurar algo leve pra ler e dei de cara com ele.

Comecei a ler e me envolvi com a história, leve e divertida. E acabei descobrindo que é o primeiro de uma série. Eu amo ler livros clássicos e também de suspense, mas uma comédia romântica é sempre um ótimo livro de cabeceira. Claro que comprei todos os outros.

A livraria tem quatro funcionários carinhosamente chamados pela dona, Lavinia, de um “bando de alegres desajustados”. Posy, Verity, Nina e Tom são os quatro corações solitários da livraria e têm um livro dedicado a cada um.

“Era uma vez uma pequena livraria em Londres, onde Posy Morland passou a vida perdida entre as páginas de seus romances favoritos. Assim, quando Lavinia, a excêntrica dona da Bookends, morre e deixa a loja para Posy, ela se vê obrigada a colocar os livros de lado e encarar o mundo real. Porque Posy não herdou apenas um negócio quase falido, mas também a atenção indesejada do neto de Lavinia, Sebastian, conhecido como o homem mais grosseiro de Londres. Posy tem um plano astucioso e seis meses para transformar a Bookends na livraria dos seus sonhos — isso se Sebastian deixá-la em paz para trabalhar. Enquanto Posy e os amigos lutam para salvar sua amada livraria, ela se envolve em uma batalha com Sebastian, com quem começou a ter fantasias um tanto ardentes. Resta saber se, como as heroínas de seus romances favoritos, Posy vai conseguir o seu “felizes para sempre”.

Esse título, com essa capa linda e essa sinopse fofa, além do fato da história se passar em Londres me fizeram comprar o livro. Os pais de Posy trabalharam com Lavinia durante toda vida. Seu pai administrando a livraria e sua mãe administrando o salão de chá anexo. Até que eles morrem num acidente de carro quando Posy ainda é muito jovem e seu irmão Sam apenas um garotinho. Lavinia os deixa morando no apartamento logo acima da livraria e quando morre deixa a livraria praticamente falida para Posy. A moça tem dois anos para colocar o negócio nos eixos ou Sebastian, neto de Lavinia, assumirá a loja no lugar dela.

Apesar de ter achado o livro fofo, ele é o mais fraco dos quatro. Posy é muito imatura aos 28 anos. Às vezes Sam, seu irmão adolescente, é mais maduro que ela. Em compensação ela ama livros, especialmente livros românticos da época da Regência e sabe absolutamente tudo sobre eles. Sebastian, o neto de Lavinia, é um dos personagens literários mais chatos que já vi. É rico e o rei da tecnologia, tendo uma aplicativo de encontros chamado HookUp que faz muito sucesso. Parece que esses aplicativos estão na moda, não? Posy quer transformar a livraria num local que venda apenas ficção romântica e Sebastian é completamente contra. Apesar dos diversos arranca-rabos que eles têm durante toda a história, de alguma maneira os dois funcionam bem juntos.

Eu adoro a interação de Posy com seus amigos Verity, Nina e Tom, apesar de todos serem completamente diferentes um do outro. Verity é introvertida, Nina é uma pin-up moderna e Tom trabalha numa tese de doutorado e é muito misterioso. Mesmo com essas diferenças, ou talvez por causa delas, todos são muito amigos. Também achei super divertido Posy dando uma de Julia Quinn e escrevendo contos eróticos de época (com Sebastian como personagem principal). Outra coisa que amei foi o fato do livro ser cheio de citações literárias que vão desde Jane Austen e Charlotte Brontë até Sophie Kinsella. Inclusive a última citação do livro é bem sugestiva.

O que não gostei foi a forma super rápida que a autora deu para os dois personagens se entenderem. É como se ela tivesse escrito as últimas páginas às pressas. Dá a sensação que está faltando alguma coisa. Porém, mesmo com uns defeitinhos o livro é divertido e fofo.

Eu me apaixonei pela livraria. Adoraria me deparar com ela em Londres ou em qualquer outro lugar do mundo.

As Pontes de Madison

Eu não lembro quando assisti ao filme As Pontes de Madison pela primeira vez. Lembro que foi no cinema (os personagens principiais foram magnificamente interpretados por Meryl Streep e Clint Eastwood) e depois vi em DVD algumas vezes. Já a peça, eu lembro perfeitamente. Estava de férias em São Paulo e fui assistir à estreia no dia 17 de Julho de 2009 no Teatro Renaissance. Jussara Freire e Marcos Caruso estavam soberbos nos papéis de Francesca Johnson e Robert Kinkaid.

Há pouco tempo estava na casa de uma amiga e vi o livro, escrito por Robert James Waller. Ela me emprestou e eu o trouxe pra casa. Isso foi há uns dois ou três meses. Tenho mania de deixar livros ‘na fila’. Essa semana resolvi lê-lo e o fiz em dois dias, de tão envolvida que fiquei com a história.

Robert Kinkaid é um fotógrafo que vive em Washington e faz trabalhos para a revista National Geographic, e para isso viaja pelos quatro cantos do mundo. Divorciado e sem família, é uma alma livre. Francesca Johnson é uma dona de casa casada, mãe de dois filhos adolescentes e leva uma vida tranquila e sem grandes emoções. Quando Robert vai para a pacata cidade de Winterset, no condado de Madison, Iowa, para fotografar as sete pontes cobertas que ali existem, as vidas dos dois nunca mais voltam a ser as mesmas.

Robert já havia encontrado seis das sete pontes que iria fotografar, mas estava perdido quanto à ultima. Francesca está na varanda de sua casa bebendo uma limonada e aproveitando uns dias sozinha, já que seu marido e filhos foram passar uns dias fora, numa feira de gado, quando vê uma camionete se aproximando e Robert para diante dela para pedir informações sobre a tal ponte que precisava encontrar. Num impulso ela resolve levá-lo até lá.

Fica evidente que os dois irão se apaixonar. O aventureiro Robert consegue acalmar seu coração diante desse amor, e a calma Francesca entra em ebulição por causa dele. É um amor intenso, maduro e realista com tudo que uma relação assim implica. Apesar de adultério ser um tema polêmico (com razão), Waller descreve a relação dos dois com uma delicadeza tão grande que fica praticamente impossível não torcer por eles.

Quem já assistiu ao filme sabe como termina. O capítulo final é tão lindo que fiquei com os olhos marejados, e eu sou uma pessoa difícil de chorar. Apenas leiam.

Das sete pontes cobertas de Madison retratadas no livro, seis ainda existem e são monitoradas 24 horas por dia por um sistema de câmeras e alarmes, para conter a depredação que haviam sofrendo. Uma delas infelizmente pegou fogo há alguns anos.

Algumas frase marcantes do livro:

“Em um mundo cada vez mais endurecido, sobrevivemos todos com nossas próprias carapaças de sensibilidades encobertas. Em que ponto a grande paixão termina e a insipidez se inicia, não sei.”

“Previsibilidade é uma coisa, medo de mudar é outra.”

“O erotismo, de alguma forma, era um negócio perigoso e impróprio para seu modo de pensar.”

“Os velhos sonhos foram bons sonhos; eles não deram certo, mas fico contente porque os tive.”

“Num universo de ambiguidades, este tipo de certeza só existe uma vez, e nunca mais, não importa quantas vidas se vivam.”

Por causa da pandemia, entre outras coisas, eu quase desisti desse blog. Depois de quase um ano sem postar, resolvi retomar a ele porque gosto de escrever e apesar de não ganhar dinheiro com ele (quem sabe um dia?) é um dos meus hobbys preferidos. Bem vinda de volta pra mim! 😉

Desonra

Desonra, do escritor sul-africano J. M. Coetzee, é um livro incômodo. Embora a escrita seja bem fluida e simples, o tema é bastante complexo. Aliás, acho que Desgraça seria um título mais apropriado para o livro, já que é a tradução do título original (Disgrace).

David Lurie, um professor universitário de 52 anos, duas vezes divorciado, vive na Cidade do Cabo, na África do Sul pós-apartheid onde, embora não haja mais segregação, existem muitos conflitos e ressentimentos raciais. Falei que o nome Desgraça seria mais apropriado para o livro porque é o que acontece com Lurie, logo após seduzir meio que a força uma de suas alunas e o caso ser revelado à universidade. David recusa-se a se desculpar pelo acontecido e é forçado a pedir demissão. Uma vez sem emprego, vai morar no campo com a filha Lucy, onde deseja terminar uma peça de teatro sobre os anos que Lord Byron passara na Itália.

Só consegui sentir certa empatia pelo personagem principal já perto do final do livro, depois que certo acontecimento muda a vida de Lurie e de sua filha por completo. Como disse, o livro é bastante incômodo de ler. Trata de abuso sexual, maus-tratos contra animais, violência, racismo.

Fazia tempos que um livro não me despertava tanta raiva e vontade de dar uma boa sacudida em um personagem. Embora seja muito interessante, principalmente porque trata de uma cultura diferente da que estamos acostumados a ver, Desonra não é um livro fácil. É seco, duro e o final é um soco no estômago, daqueles bem dados.

A Sombra do Vento

Hoje amanheci com a triste notícia que Carlos Ruiz Zafón, um dos meus autores preferidos, havia morrido precocemente aos 55 anos. A Sombra do Vento foi o primeiro livro dele que li. Lembro do impacto que me causou há alguns anos e o livro acabou se tornando um dos meus preferidos até hoje.

Marina, O Príncipe da Névoa, O Jogo do Anjo, foram outros livros fantásticos de Zafón, embora nenhum tenha sido tão marcante para mim quanto A Sombra do Vento.

CRZ

Numa madrugada de 1945, em Barcelona, Daniel Sempere é levado por seu pai a um misterioso lugar no coração do centro histórico: o Cemitério dos Livros Esquecidos. Lá, o menino encontra A Sombra do Vento, livro maldito que mudará o rumo de sua vida e o arrastará para um labirinto de aventuras repleto de segredos e intrigas enterrados na alma obscura da cidade. A busca por pistas do desaparecido autor do livro que o fascina transformará Daniel em um homem ao iniciá-lo no mundo do amor, do sexo e da literatura.

Bastou a sinopse do livro para me conquistar, mas A Sombra do Vento tem muito mais. É daqueles livros que você lê e fica um tempão pensando nele. O autor escreve com maestria e a construção de seus personagens é muito bem desenvolvida. Destaco aqui Fermín, amigo de Daniel, um intelectual na pele de um mendigo que tem um bom humor incrível.

A escrita de Zafón é poética, sedutora. Ele consegue misturar passado, presente e futuro sem se perder. O livro tem uma fascinante mistura de drama, suspense e romance. Cada página tem em certo tom de mistério que deixa o leitor querendo sempre mais. E apesar disso, é daqueles livros para se ler devagar, saboreando cada frase, com pena que ele acabe.

Além disso tem o Cemitério dos Livros Esquecidos, um lugar mágico, que eu gostaria de um dia encontrar.

A morte de Carlos Ruiz Zafón é uma perda irreparável para a literatura mundial. Fica aqui minha homenagem ao autor.

Abaixo, algumas das frases mais memoráveis do livro A Sombra do Vento.

“Cresci no meio de livros, fazendo amigos invisíveis em páginas que se desfaziam em pó cujo cheiro ainda conservo nas mãos”

“O destino costuma estar ao virar da esquina. Como se fosse uma rameira, um gatuno ou um vendedor de loteria: as suas três encarnações mais batidas. Mas o que não faz é visitas à domicílio. É preciso ir atrás dele.”

“Cada livro, cada volume que você vê, tem alma. A alma de quem o escreveu, e a alma dos que o leram, que viveram e sonharam com ele. Cada vez que um livro troca de mãos, cada vez que alguém passa os olhos pelas suas páginas, seu espírito cresce e a pessoa se fortalece.”

“As pessoas estão dispostas a acreditar em qualquer coisa antes de acreditar na verdade.”

Mestres do Terror

41wO9HxMI+L

Sempre gostei de histórias de terror. Do tipo inteligente, daquelas que mais insinuam do que mostram. Esse lance de sangue pra todo lado não é comigo. Gosto mais de suspense e terror psicológico. Quando ouvi falar desse box dos Mestres do Terror, da Editora Nova Fronteira, resolvi que era hora de ler os maiores clássicos do horror. Drácula, Frankenstein e O Médico e o Monstro são obras seculares e, ainda assim, atuais, que foram adaptadas para o cinema e o teatro diversas vezes.

Drácula – Do romancista irlandês Bram Stocker, Drácula foi o livro o qual eu estava mais curiosa, talvez por ter uma queda por  vampiros. O livro é um romance epistolar, algo que muita gente não gosta, mas eu adoro. É como se eu estivesse vivendo aquilo, lendo os diários e cartas de outras pessoas. O jovem advogado Jonathan Hacker viaja para as montanhas dos Cárpatos, perto da Transilvânia, uma região da Romênia, para fazer transações imobiliárias com o Conde Drácula. No início Jonathan acha o conde encantador, com seus modos educados, mas aos poucos ele percebe coisas estranhas. Drácula nunca come, nunca aparece de dia e seu corpo não reflete no espelho. Jonathan percebe que se tornou prisioneiro do castelo e fará de tudo para ir embora e encontrar sua noiva, Mina Murray. Drácula deixa Jonathan em seu castelo e parte para a Inglaterra, onde seu destino se cruzará com o de Mina Murray, através de sua melhor amiga, Lucy. O livro fala de amizade, amor, doença, loucura. Um dos pontos mais interessantes foi a amizade e devoção do Dr. Van Helsing, crucial para o final da história, e seus companheiros, Lord Goldaming, Dr. Seward e Quincey Morris, três admiradores de Lucy, que farão o possível e impossível para tentar salvá-la do vampiro. O que me incomodou um pouco foi o fato de todos tratarem as mulheres como bibelôs, seres que não têm estômago para saber sobre certas coisas. Disse um pouco porque o livro foi escrito no século 19, então deixei passar sem ficar (muito) irritada. Enfim, o livro é uma leitura pra lá de interessante que deixa o leitor com o fôlego suspenso várias vezes, sem saber o que vai acontecer com os personagens.

Frankenstein – Escrito pela escritora inglesa Mary Shelley quando ela tinha apenas 19 anos, Frankenstein é considerado o primeiro livro de ficção científica da história. Longe de ser a obra de terror que muitos imaginam, Frankenstein está mais para drama. Durante uma expedição náutica, enquanto buscava uma entrada para o Polo Norte, o capitão Robert Walton escreve para a irmã narrando como conheceu o doutor Victor Frankenstein, que conta sua triste história de médico ambicioso que quis vencer a morte. E ele faz isso dando vida a uma criatura monstruosa, de tamanho descomunal, com a pele amarela e aparência medonha. Ele se arrepende de ter criado tal ser e o abandona à própria sorte. Uma curiosidade: ao contrário do que muita gente pensa, Frankenstein é o criador. A criatura sempre é chamada de monstro ou demônio. O Dr. Frankenstein acaba contando também a história do ponto de vista da criatura, que, para a surpresa de todos, é um ser articulado, que a princípio admira os seres humanos e passa a tentar ajudá-los. Mas devido a sua aparência deplorável, é rejeitado e temido por quem cruza seu caminho. Pensando bem, Frankenstein é um representação de todas as pessoas excluídas da sociedade. Pessoas que não tiveram oportunidade ou sorte e são isoladas de todos. Achei esse livro o melhor e mais complexo dos três. Deixo aqui uma frase da criatura: “Devo respeitar o homem, quando ele me despreza? Se ele fosse bondoso comigo, eu, em vez de maltratá-lo, o cobriria de benefícios, com lágrimas de gratidão por me haver recebido. Mas isso é impossível; os sentidos humanos constituem barreiras intransponíveis para a nossa união.”

O Médico e o Monstro – O Médico e o Monstro, do escritor escocês Robert Louis Stevenson, pode ser considerado um suspense psicológico. Sr. Utterson, um advogado, se preocupa com seu cliente, o respeitável Dr. Jekyll, quando ele torna o Sr. Hyde seu beneficiário no testamento. Hyde é uma figura sinistra, não só fisicamente. É intratável e violento. Utterson expressa suas preocupações para o Dr. Jekyll, mas este diz que tudo está sob controle. O que o Sr. Utterson não sabe é que o médico criara uma poção capaz de separar seu lado bom de seu lado mais sombrio, e, ao contrário do que dissera a seu advogado, ele perde completamente o controle. O livro é muito bom e achei a narrativa bem atual, apesar de ter sido publicado em 1886. O Médico e o Monstro trata da dualidade do ser humano. Todos temos dentro de nós o bem e o mal, a luz e as trevas, o amor e o medo. Muitas vezes temos esse conflito dentro de nós. Resta torcer para que o Sr. Hyde nunca ganhe essa batalha.

Os três livros são clássicos que merecem ser lidos sempre. Recomendo.

 

 

O Fio da Trama

livro

O Fio da Trama, da Editora Tordesilhas, narra a trajetória emocionante das mulheres da família Pascolato, uma das maiores referências da moda no Brasil, desde os diários da matriarca Gabriella, passando por sua filha Costanza, até os depoimentos comoventes de suas netas, Consuelo e Alessandra.

A história começa com a jovem Gabriella Pallavicini na sua terra natal, Itália, e sua luta para ter uma formação acadêmica, numa época em que as mulheres eram criadas para serem apenas esposas, mães e donas de casa. Nessa primeira parte, denominada Alta Costura, Gabriella narra no diário seus desejos e frustrações; como conheceu seu marido Michele e a participação dele no partido de Mussolini; os períodos pré e pós Segunda Guerra Mundial; a fuga para o Brasil, com dois filhos pequenos.

Na segunda parte, Prêt-à-Porter, é Costanza que passa a narrar os acontecimentos, sua rebeldia, seus casamentos, tudo intercalado com depoimentos de suas filhas Alessandra e Consuelo.

O livro fala de perdas e danos, de recomeços, de frustrações e felicidades, casamento e divórcio, tentativas frustradas de gravidez, filhos, netos, drogas. Parece uma história de ficção, mas é tudo verdade. As autoras não douram a pílula e a narrativa é fluida e gostosa de ler. Apesar do livro ter quase 500 páginas, li em três dias. E para melhorar, a edição tem fotos maravilhosas.

O Fio da Trama é desses livros que, apesar da curiosidade com o desenrolar da história, dá pena quando acabamos de ler. Podia ter mais umas 200 páginas.

 

Homens Imprudentemente Poéticos

hip

A primeira vez que ouvir falar no escritor português Valter Hugo Mãe, foi no final de 2018, numa conta literária que sigo no Instagram. No começo do ano passado estava em São Paulo, e como adoro uma livraria, passei na Cultura e vi esse livro. Ele me chamou atenção pela bela capa, pelo título e pelo autor, que tinha curiosidade de conhecer. Comprei o livro e o deixei na fila por meses até que, voltando de uma viagem em outubro do ano passado, resolvi ler.

Homens Imprudentemente Poéticos é um livro ambientado no Japão antigo, em uma aldeia aos pés do Monte Fuji e perto da Floresta dos Suicidas. Os personagens principais são o jovem artesão Itaro, órfão que tem o dom ou a maldição de prever a morte quando mata animais, e o oleiro Saburo, que cultivou um jardim ao pés da floresta para tentar acalmar uma fera misteriosa, que segundo Itaro, tiraria a vida da Senhora Fuyu, sua esposa.

Os esforços de Saburo são em vão e, para aplacar um pouco a saudade de sua esposa, ele pendura o quimono da Senhora Fuyu no jardim, como se fosse um espantalho.

O livro trata das vidas desses dois personagens tão distintos e que ao mesmo tempo, se completam. O que falta em Itaro sobra em Saburo e vice-versa. Itaro sente falta de ternura, apesar de ter de sobra na sua irmã mais nova, a menina cega Matsu, que mesmo em sua terna inocência, não consegue extrair a tristeza do coração do irmão. Em Saburo sobra amor, mesmo na ausência de sua amada esposa. No decorrer do livro, as personalidades dos dois personagens vão se aproximando.

Valter Hugo Mãe narra a história de um jeito que a língua portuguesa, já tão bela, consegue ficar ainda mais bonita. O autor escreve em prosa como se fosse poesia, o que faz, ele mesmo, um homem imprudentemente poético.

“Por vezes, escolhiam a fome em troca de um mínimo de sossego. A felicidade podia acontecer num ínfimo instante, ainda que a fome se mantivesse e até a sentença para sofrer. O sofrimento nunca impediria alguém de ser feliz.”

 

 

 

 

 

 

 

Tomates Verdes Fritos no Café da Parada do Apito

TVF

Feliz Ano Novo!!!!

Eu, como sempre, abandonando este pobre blog. Resolvi fazer resenhas de todos os livros que ler este ano, além últimos que li no ano passado. Então vou começar falando desse livro incrível que me deixou saudade quando acabei de ler.

Tomates Verdes Fritos no Café da Parada do Apito, foi um livro escrito por Fannie Flagg, em 1987, e serviu de base para o filme de mesmo nome, de 1991.

Em 1986, Evelyn Couch, uma mulher de meia idade, vai a contragosto visitar semanalmente junto com o marido, a sogra, que vive num asilo. Evelyn está com sobrepeso, entrando na menopausa, desgostosa com tudo e com todos. Numa das visitas ao asilo ela conhece Ninny Threadgood, uma simpática e conversadeira velhinha de 86 anos, que acaba conquistando sua amizade.

Ninny começa a narrar sua história de quando vivia na Parada do Apito, no Alabama, um dos estados mais pobres, repressivos e racistas dos Estados Unidos. Ela conta os acontecimentos do vilarejo e seus habitantes, destacando a amizade incomum entre Idge Threadgood, sua cunhada libertária e mulher à frente do seu tempo, e a doce e reservada Ruth Jamison.

Com a ajuda do pai de Idge, ela e Ruth abrem um café que fica famoso, não só por sua comida simples e gostosa, como pelo fato das duas não negarem um prato de comida a ninguém que estivesse com fome, seja branco, negro ou sem teto.

Um crime acaba acontecendo na cidade e só sabemos o desfecho dele nas páginas finais, o que vai aguçando cada vez mais nossa curiosidade.

Usando capítulos curtos, a autora vai alternando as épocas, (a década de 1980, onde a história se inicia; o período entre as duas Grandes Guerras, a Depressão norte americana) e cria um cenário único onde vários personagens coadjuvantes têm destaque.

A história central, o relacionamento de Idge e Ruth, é contada com delicadeza, apesar das repressões e ameças que elas sofrem. É a também sobre o resgate da identidade de Evelyn, que acaba se encontrando depois de ficar amiga de Ninny. É uma história sobre amor, amizade e quebra de convenções. E no final do livro tem várias receitas do Café da Parada do Apito, incluindo os deliciosos Tomates Verdes Fritos.

A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata

“Talvez haja algum instinto secreto nos livros que os leve a seus leitores perfeitos. Se isso fosse verdade, seria encantador.” Juliet Ashton

sltcb
Amei essa capa, com os selos de Guernsey

Há alguns meses assisti ao filme A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata e fiquei encantada. Até escrevi sobre ele aqui. Comecei o ano comprando livros (seis), entre eles, o que dá nome ao filme, escrito por Mary Ann Shaffer e Annie Barrows.

Embora o filme tenha algumas diferenças em relação ao livro (nenhuma grave), o enredo é o mesmo. A história começa na Londres pós-guerra, onde todos ainda estão traumatizados pelas perdas que tiveram e com a cidade, que ainda está em escombros. Mesmo assim estão todos respirando aliviados pelo fim da guerra e tentando curar suas feridas. Juliet Ashton é uma escritora que lançou uma coletânea de seus artigos durante a Segunda Grande Guerra e obteve um certo sucesso. Seu editor, amigo e correspondente de cartas a manda para todos os cantos da Grã-Bretanha para o lançamento do livro.

Mas agora ela está num impasse. Quer escrever outro livro, dessa vez um de verdade, e não uma coletânea de artigos, mas está sem inspiração. Não consegue achar um assunto bom o suficiente para o livro.

Até que um dia recebe uma carta de um Dawsey Adams, que tem um livro de Charles Lamb, que pertenceu a ela, e escreve pedindo informações sobre livrarias de Londres onde possa encontrar mais obras do autor. Na carta ele fala que é membro da Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata, uma sociedade que começou por causa da ocupação alemã em Guernsey, uma ilha do Canal da Mancha, na costa da Normandia e dependência da Coroa Britânica. Juliet fica curiosa e começa a se corresponder não só com ele, como também com outros membros da sociedade. Uma ideia sobre seu novo livro começa a se formar. Ela fica tão encantada e curiosa com seus novos amigos de correspondência que resolve ir a Guernsey, para saber mais sobre a sociedade e seus membros.

O livro é um romance epistolar, que muita gente torce o nariz, mas eu particularmente adoro. Ele fala da ocupação alemã em Guernsey, de amizade, de amor, de solidariedade e, principalmente de livros e do amor das pessoas por eles. Você pode ir das lágrimas às gargalhadas em algumas páginas. É simplesmente sensacional. Você acaba se apaixonando por seus personagens e querendo ser amiga daquelas pessoas.

Fiquei tão fascinada pelo livro e seus personagens que resolvi pesquisar sobre a ilha de Guernsey. As fotos são lindas e a ilha já está na minha lista de lugares pra conhecer. Mais um!

guernsey33
Guernsey é linda, não?

Li o livro em dois dias, de tão bom. Leia e se emocione também.